Certa vez, eu estava participando de um congresso e, no meio de uma palestra, comecei a conversar com um executivo que estava sentado ao meu lado… Quando a palestra acabou, fomos ao lobby do congresso tomar um café, trocar cartões e seguir com o bom e velho network.
Num determinado momento o jovem executivo me perguntou do nada: “Mas me diga, Alexandre! Qual o seu paradigma?”.
– Como?
– Seu paradigma, suas crenças, o que você segue nos projetos que você gerencia?
Nisso ele começou a disparar dezenas e dezenas de teorias que pareciam decoradas de livros: SCRUM, design thinking etc etc etc.
Nesse momento, lembrei de alguns anos atrás, quando eu era gerente de projetos de uma produtora de e-learning e veio uma designer instrucional de vinte e poucos anos conversar comigo. Num determinado momento da conversa, ela veio com o anúncio: “Sabia que eu posso ser você?”.
De novo: “Como?”
Ao questionar o motivo daquela afirmação, ela simplificou que estava começando a trajetória como designer instrucional, mas que fez vários cursos e se sentia totalmente preparada para ser uma “gerente de projetos”.
Naquele momento eu a vi resumir toda minha vida profissional em uma “cartilha”, que era só seguir as instruções que já estava apta para me substituir.
Ali pensei em responder algo como: “Bom, para isso você precisa comer um pouco mais de feijão com arroz, pois falta bagagem na sua vida”. Mas a prepotência e animação eram tamanhas, que apenas concluí “Que bom! Espero que você consiga chegar nesse patamar… Boa sorte!”.
Em tempo, em nenhum momento eu estou afirmando aqui que cursos e certificações não são importantes. Pelo contrário, o estudo precisa ser algo contínuo para todos nós, independente da profissão. Mas ter uma “vivência” é especialmente importante! O que me fez lembrar de uma situação que exemplifica bem essa afirmação:
No prédio onde moro, por ser um condomínio grande e com mais de um bloco, tem uns 25 funcionários, desde porteiros, faxineiros, ascensoristas… Junto a esse time, vem a Adriana, que cuida da administração do prédio como um todo. Ela responde diretamente ao síndico do prédio, mas é ela que resolve tudo! Desde negociar com a light quando vem cortar a luz de um morador inadimplente, passando por bicicletas esquecidas no play, até administrando conflitos entre moradores… Isso tudo somando a organizar diariamente as tarefas e escalas dos funcionários do prédio. Tudo! Curiosamente, a Adriana não fez faculdade e deve ter chegado até o ensino médio. Porém, ela tem alguns requisitos que são essenciais para uma função de liderança, nos quais podemos aqui destacar alguns:
- Ela é uma pessoa extremamente organizada. Sempre que eu tinha que resolver alguma situação do meu apartamento e eu procurava a administração, ela sabia exatamente onde estava tudo. Todos os documentos, recibos, folhetos, guias… Tudo estava exatamente onde ela dizia estar.
- Ela sabe lidar com “PESSOAS”. Na função que exerce, ela precisa estar negociando a todo o momento. Negociando com moradores, síndico, funcionários do prédio, entregadores, fornecedores, moradores dos prédios vizinhos etc.
- Ela domina todo o conhecimento sobre a área que é responsável. Ela sabe como funciona cada tarefa e cada situação referente à realidade do condomínio. Por exemplo, outro dia a vi citando pontos da lei do inquilinato para resolver um embate entre o proprietário e o locatário de um apartamento.
- Para terminar: vivência! Conversando com a Adriana, é fácil perceber que o seu conhecimento não é de hoje. Ela já trabalha com isso desde sempre. Sabe como funciona cada tarefa, pois viveu isso durante toda sua vida.
Voltando ao nosso mercado, eu comecei a trabalhar em cargos de liderança em projetos de e-learning há pelo menos uns 25 anos… Fiz cursos, estudei, aprendi… Mas muita coisa foi adquirida nessa trajetória a partir do dia a dia… Errando, acertando… Aprendendo!
Alguns aprendizados vieram da pior maneira: errando! Já errei em projetos que o cliente quase me jogou pela janela (no sentido figurado, claro!). Mas depois daquela situação, sempre que me via em um momento semelhante, eu sabia exatamente o que fazer (e o que não fazer).
Também passei por excelentes empresas com ótimas iniciativas… Trabalhei em empresas que quinzenalmente tinha um “dia da novidade”. Juntávamos toda a equipe de produção e cada um apresentava o que estava fazendo naquele momento. Apresentávamos os projetos no qual estávamos participando, mostrávamos a solução proposta e, em alguns momentos, até apresentávamos alguma dificuldade no projeto, onde todos juntos colaboravam para se chegar a uma solução.
Também trabalhei em empresas que tinham como parte do processo uma etapa de “Lições aprendidas”. Sempre que um projeto era concluído, um documento era gerado informando todos os problemas daquele projeto e o que foi feito para solucionar aquele problema. Futuramente, quando um projeto semelhante era iniciado, aquela documentação era consultada para que os erros não se repetissem (dica: Trello).
Enfim, para fechar aqui, quer estar apto para gerenciar projetos de e-learning? Estude! Faça cursos, faça um MBA, quem sabe até um PMP, conheça as metodologias disponíveis no mercado… Mas existe um outro conhecimento que você só vai adquirir com o tempo. Erre! Acerte! Erre de novo! Aprenda com todos da equipe! Ouça mais do que fale! Além dos estudos, que são essenciais, precisa também “comer muito feijão com arroz”.
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