Mulher com raiva olhando pro computador

O combinado não sai caro

Já presenciei projetos de e-learning, nos quais o cliente percebeu erros ortográficos quando o projeto estava pronto e no ar. Esse tipo de situação é bem desagradável, mas muitas vezes é causado por conta de falhas no processo de produção, não por uma revisão malfeita.

Explico, no processo correto de produção de cursos on-line, a revisão ortográfica deverá ocorrer a partir do momento em que o storyboard for aprovado pelo cliente. Não antes e nem depois! Como já falei outras vezes, o storyboard é a proposta pedagógica do curso e é nesse momento que o conteúdo bruto é reorganizado pedagogicamente e as novas estruturas são apresentadas… Um texto vira um diálogo, um processo vira um infográfico, um fluxo vira um enredo etc. Como esse documento geralmente é escrito em uma ferramenta de fácil edição, como Power Point por exemplo, é muito mais fácil realizar alterações nesse momento, do que depois finalizado em um link do curso pronto (ou pior, numa locução ou vídeo).

Na etapa seguinte, o designer gráfico vai montar o projeto efetivamente a partir do storyboard revisado, ajustado e validado, juntamente com projeto gráfico definitivo. Num mundo ideal, a partir desse ponto os textos não são mais alterados. O conteúdo do storyboard será transformado em telas, animações, infográficos, locuções, vídeos etc.

É de extrema importância que o gerente de projetos explique isso ao cliente no momento da reunião de briefing, lá no início do projeto: “storyboard validado, textos não devem ser mais alterados”.

Claro que exceções acontecem! Um processo que foi atualizado depois do storyboard validado, um dado que mudou, um sistema que foi atualizado etc. Mas no geral, o ideal é que não seja alterado.

Só que, geralmente, isso não acontece. O storyboard é validado, a revisão ortográfica é feita, ajustes são aplicados, o curso é produzido e o link da primeira versão é disponibilizado para o cliente analisar. Porém, nesse momento, o que o cliente precisa validar não são os textos ou o layout em si. Essas etapas já foram concluídas! Ele precisa validar o conjunto… Se tudo se “encaixou”, se as imagens escolhidas funcionaram com o texto da tela, se o infográfico está de acordo com a estrutura rascunhada… Enfim, se o objetivo inicial foi passado de acordo com o briefing.

Porém, entretanto, todavia, muitas vezes o gerente de projetos não deixa isso claro no início do projeto e o ponto focal do cliente, ao invés de passar o link apenas para os validadores definidos no início do projeto, resolve passar o link para várias outras pessoas que não estavam acompanhando a produção inicial. Como resultado, essas novas pessoas começam a pedir vários ajustes que não deveriam ser mais considerados. Muitas vezes a versão produzida até está correta e a revisão que chega já começa com um: “Essa parte ficaria melhor se estivesse escrita assim…”. Por conta disso, a revisão ortográfica já realizada se perde totalmente no meio do caminho.

Algumas empresas produtoras de e-learning deixam para fazer a revisão ortográfica apenas no final, com tudo pronto, validado e fechado. Já considerando que etapas não serão respeitadas e prevendo possíveis retrabalhos. Só que é algo bem mais trabalhoso do que revisar no momento do storyboard validado, pois o revisor não estará mais revisando um arquivo PPT, no qual pode ajustar o erro de imediato, no momento em que ele foi identificado. Num curso já pronto, ele estará vendo um link, nisso não conseguirá fazer o ajuste em si, ele precisará pontuar os erros numa nova versão do storyboard e mandar para o designer ajustar posteriormente nas telas finais. O trabalho será feito duas vezes: do revisor no storyboard e do designer no curso produzido. Assim é garantido que todas as etapas do projeto estão com o mesmo conteúdo.

Se o gerente de projetos deixou tudo claro no início do projeto sobre os marcos da revisão (e deixou registrado), qualquer tipo de ajuste fora de hora não será considerado. Porém, se são mudanças realmente necessárias, dependendo do tamanho e complexidade, um novo cronograma será definido e, se o retrabalho for grande, o valor da produção poderá ser revisto.

Agora, se nada foi informado no início da produção ou nada foi registrado, teremos um problema nesse projeto, pois se nos negarmos a fazer o que foi pedido pelo cliente explicando o processo só no final, ele até pode entender e ceder (ou concordar em pagar pelo retrabalho), mas dificilmente vai querer nos contratar para um novo projeto.

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Alexandre Collart

Atuou em projetos para clientes como White Martins, SulAmerica, Autotrac, TV Globo, Petrobras BR, Bob’s, Mongeral Aegon, Módulo Security, Universidade Candido Mendes, Telelistas, Brasil Brokers, Prudential, Wilson’s Sons, Souza Cruz, Honda Motos, Icatu Seguros, Furnas, TIM, Laboratórios Abbott, Sebrae/RJ, Fiocruz, Claro, entre outras. Aprendendo a cada projeto entregue, a cada metodologia utilizada e a cada acompanhamento com os clientes, resultando nos textos para este Blog.

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