Eu trabalho desde sempre atendendo o mercado corporativo, mas nos últimos dois anos comecei a participar de um projeto para uma universidade no desenvolvimento e comercialização de cursos para pós-graduação on-line.
Confesso que, nos primeiros meses de projeto, eu fiquei perdidinho! Isso porque são mercados completamente distintos… Ritmos diferentes, expectativas diferentes, públicos diferentes etc. Claro que minha experiência no corporativo ajudou! As tecnologias e metodologias são basicamente as mesmas, mas existem muitas particularidades, nas quais tive que entender cada uma e me ajustar no decorrer do projeto.
Para começar com o cronograma… No corporativo tínhamos um cronograma com início, meio e fim para cada demanda pontual. No acadêmico o projeto é um só e sem prazo para terminar. Quer dizer, os alunos realizam os cursos da pós com uma duração de 10 a 12 meses, com uma disciplina por mês, não muito diferente de uma trilha de aprendizagem em um projeto corporativo com uma sequência de cursos com pré-requisitos (isto é, ele só começaria o curso 3, depois que passasse pelo curso 2, que começaria este depois do curso 1 etc, seguindo justamente uma “trilha”). Mas o projeto como um todo no acadêmico é muito mais contínuo.
O ritmo de trabalho é outro também… No corporativo, o cronograma precisa ser seguido à risca, pois uma etapa está vinculada a outra… O cliente precisa enviar o material bruto até o dia X, para que o storyboard seja iniciado, entre outras etapas da produção. Já no meio acadêmico a velocidade é outra, os professores/conteudistas têm outro ritmo e as coisas nem sempre chegam no prazo definido. Além das validações das etapas, que também não seguem muito um cronograma fixo. Isso porque, a grande maioria, está comprometida também com a pós presencial (isso no geral, não é uma situação em que acontece com 100% dos professores). Tanto professores/tutores quanto outros profissionais da área.
Isso tudo me lembrou de quando, há uns anos atrás, contratamos um programador que veio do acadêmico para um projeto corporativo. Havíamos pedido um simples sistema com ferramentas básicas e definimos um cronograma de entregas. Quando chegou no meio do cronograma, fui ao rapaz e pedi para ver como estava o sistema. Para minha surpresa, nada foi feito efetivamente. Sua explicação foi: “Sim, estou desenvolvendo, mas estou pesquisando aqui outras funcionalidades muito legais, que podem fazer uma diferença grande no projeto”. Expliquei que não precisávamos de novas ideias muito legais por conta do cronograma, que precisava apenas das ferramentas que o briefing pedia. Mas de nada adiantou! Não estou dizendo que existe um erro aqui, apenas uma diferença na relação DEMANDA X PRAZO. O mercado corporativo tem um tempo bem diferente em relação a um departamento de pesquisas de uma universidade, por exemplo.
Por outro lado, a quantidade de detalhes e especificações do projeto acadêmico é muito maior. Enquanto no corporativo precisamos nos atentar a: fluxo de produção do curso, SCORM, publicação do curso na plataforma, criação de turmas, acompanhamento das trilhas do aluno e relatórios de participação (isso o padrão, sem contar particularidades de cada projeto)… Já no mercado acadêmico tem uma rotina de ‘secretaria’ muito mais detalhada: documentação dos alunos, acompanhamento das tarefas, fluxo dos pagamentos, alunos inadimplentes, alunos que estão há semanas sem entrar na plataforma e que precisamos entrar em contato para entender se existe alguma dificuldade, estar com PPCs atualizados para auditorias do MEC, prestação de contas com a universidade, prestação de contas com professores/tutores etc.
No caso de complexidade dos cursos a serem produzidos, no meio corporativo a liberdade criativa é muito maior (pelo menos quando o orçamento permite), já no acadêmico essa liberdade não é tão grande, isso por conta a quantidade de disciplinas/cursos a serem produzidos, afinal estamos falando aqui de dezenas de cursos com centenas de disciplinas. Acaba se tornando uma linha de montagem para dar saída para tantos conteúdos.
No dia a dia do corporativo estamos focando muito mais na produção do conteúdo, pois a customização é única para cada demanda (na maioria dos casos), porém no acadêmico precisamos focar muito mais no dia a dia do aluno. O contato com o aluno precisa ser muito mais próximo. Por exemplo, tirando avaliações objetivas (múltipla-escolha e VeF), em que as notas são geradas automaticamente, existem os fóruns de debates e grupos de discussões, em que as notas são subjetivas em que o professor/tutor precisa trocar bastante com os alunos. E, se o aluno não está participando das tarefas subjetivas, é preciso uma atenção especial para entender o que ocorre com esse aluno. Afinal de contas, é o aluno que está pagando diretamente pelo projeto (se não existem alunos se inscrevendo e pagando pelos cursos, o projeto deixa de existir). Já no mercado corporativo, quem paga a conta é a empresa contratante e o aluno acaba sendo um cliente indireto (o que não deixa de ter a mesma importância do aluno acadêmico, mas são pontos de vista diferentes).
Falando em números, o e-learning terá mais matrículas no mercado acadêmico do que o ensino presencial até 2023. A previsão é da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES). A projeção, divulgada em maio de 2018, o crescimento do EAD no ensino privado foi de 16% – foram 132 mil matrículas. Se o ritmo for mantido, no acumulado dos próximos cinco anos serão 2,27 milhões de novos alunos na educação a distância, o correspondente a 51% do total, enquanto os cursos presenciais receberão 1,99 milhão de estudantes.*
Já no mercado corporativo, um estudo produzido pelo e-Learning Industry apontou que as empresas consideram o e-learning como o segundo método mais eficiente de treinamento, e que as corporações que o adotam, contam com uma diminuição de 50% nas despesas de treinamento (economia que pode incluir os gastos com o espaço físico, deslocamento, viagens, alimentação e cancelamentos de última hora). Além disso, a metodologia on-line pode beneficiar-se de todas as facilidades tecnológicas e dos dispositivos eletrônicos móveis, que elevam em até 60% o nível de engajamento e de atenção. Outro dado importante é em relação ao atendimento eficiente ao cliente, entre as empresas que utilizam e-learning, 34% elevaram a sua efetividade frente aos anseios dos consumidores. Vale lembrar também que a propensão para a liderança de vendas nos respectivos mercados aumentou em 17% das empresas, portanto, aumentando consideravelmente a sua fatia nos mercados em que atuam.**
Enfim, existe mais uma dezena de diferenças e particularidades entre os mercados e aqui não tem nenhuma mensagem final, apenas uma constatação de quem está participando de um projeto totalmente fora da sua área de conforto e aprendendo diariamente!
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