Designers criam aplicativos

E o visual, como fica?

Certa vez, fechamos um contrato com um novo cliente para o desenvolvimento de um pacote de 10 cursos on-line, mas que faríamos um primeiro como piloto, até para avaliarem o nosso trabalho. Dando certo, faríamos os outros 9 e com a possibilidade de renovar o contrato para atender as necessidades das outras áreas dentro do cliente. Oportunidade boa, pois se tratava de uma grande empresa no mercado brasileiro.

Já na reunião de briefing para o primeiro curso, o cliente impôs logo de primeira: “Olha! Nós trabalhamos aqui com três propostas de projeto gráfico! Para cada curso, vocês me apresentarão três layouts, para escolhermos um!”. Logo em seguida, mostraram o que outros fornecedores fizeram anteriormente para eles, o que já identificamos como um sinal de alerta! Esse cliente era extremamente visual e pouco pedagógico.

O que vimos nos projetos anteriores era bizarro! O projeto começava com eles apresentando três layouts genéricos e bonitinhos. Genéricos, porque serviam para qualquer tipo de curso, que poderiam servir tanto para um curso de enfermagem básica como de metalurgia. Nisso se iniciava um ciclo vicioso que chegava até 8 ou 10 versões de layout, até fechar a versão definitiva. Geralmente o fornecedor apresentava os três layouts pedidos e o cliente gostava das cores do layout 1, das ilustrações do layout 2 e das fontes do layout 3… O cliente então pedia uma quarta versão com o que gostou das três primeiras. Claro que o resultado final era um quarto layout “frankenstein”, todo remendado! Consequentemente, tudo era jogado fora e os designers começavam tudo de novo até atender a expectativa desse cliente.

Nem estou botando a culpa nos outros fornecedores, isso era uma imposição desse cliente que, por ser uma grande empresa, era difícil os fornecedores terem alguma abertura para mudar esse processo.

Como estávamos começando lá dentro e esse primeiro projeto seria nosso cartão de visitas, não tivemos abertura para propor alternativas no processo e tivemos que “entrar nessa dança”.

Não deu outra, nossa primeira experiência com esse cliente foi totalmente traumática! Várias idas e voltas com o layout… “Esse está lindo, mas o outro está mais estruturado… Que tal se mudarmos isso e aquilo outro?”.

Após tantas idas e voltas, conseguimos chegar a uma versão que o cliente gostou e a produção seguiu até o final. Depois que o cliente gostou do projeto entregue, pronto! Estávamos dentro e os outros cursos estavam garantidos! Vamos comemorar!!!! Nem tanto, pois era um projeto que não valeria a pena, mesmo sendo um cliente grande, o que deixava nosso portfólio bem mais chamativo, botando na ponta do lápis, era um projeto que não dava lucro. Com tantas idas e voltas e tanto retrabalho, a soma do custo da hora/homem da equipe já tinha ultrapassado todos os limites aceitáveis. Tínhamos um problema ali!

Porém, para o segundo curso, sugerimos uma mudança no processo: o projeto gráfico seria apresentado presencialmente em uma reunião no cliente e não enviado por e-mail. Com o OK deles, seguimos no nosso trabalho. Só que, ao invés de fazermos três versões de layout, fizemos apenas uma. Mas não era apenas um layout era “o” layout. Fizemos um projeto gráfico totalmente conceitual a partir do briefing do curso (tema do curso, público alvo, objetivos…). Era uma proposta totalmente direcionada para aquele projeto. Para isso, ao invés de pegar a equipe de designers e botar cada um fazendo um layout, botamos a equipe inteira trabalhando junta e pensando numa proposta única e definitiva.

No dia da apresentação, chegamos no cliente, datashow ligado e botamos o nosso diretor de arte para apresentar todo o conceito do único projeto gráfico criado. O cliente ficou encantado! Parecia que ele estava vendo algo de outro planeta. Depois de anos vendo layouts genéricos que serviam para qualquer tema (mas que, ao mesmo tempo, não servia para nenhum), ele viu algo pensado exclusivamente para aquele projeto. Projeto gráfico aprovado de primeira e ele nem perguntou sobre os outros dois layouts.

A partir daí, conseguimos mudar o processo no cliente e, para todos os cursos seguintes, só faríamos um único projeto gráfico conceitual. Além de encantar o cliente, ainda conseguimos equilibrar os custos, já que não tiveram mais dezenas de idas e voltas para concluir uma única etapa de um processo de produção bem maior.

Já têm alguns anos desde o primeiro curso piloto, mas o pior de tudo é que até hoje nos deparamos no mercado com projetos de e-learning com layouts básicos e genéricos, que são até bonitinhos, mas que não falam a linguagem do tema principal. Enfim, da mesma maneira que o storyboard tem a sua importância no processo, por reorganizar todo o conteúdo numa nova linguagem pedagógica, que seja de fácil entendimento por qualquer aluno, o projeto gráfico também tem a mesma importância. É a partir do projeto gráfico, que iremos garantir que a experiência do usuário seja a mais interessante possível. Garantir que o funcionário estude o conteúdo na tela de um computador (ou celular) e tenha um excelente rendimento. Como o nome já diz, o “projeto gráfico” é um projeto, que precisa ser planejado, pensado, estruturado e elaborado organizadamente. Com início, meio e fim.

Compartilhar
foto do autor

Alexandre Collart

Atuou em projetos para clientes como White Martins, SulAmerica, Autotrac, TV Globo, Petrobras BR, Bob’s, Mongeral Aegon, Módulo Security, Universidade Candido Mendes, Telelistas, Brasil Brokers, Prudential, Wilson’s Sons, Souza Cruz, Honda Motos, Icatu Seguros, Furnas, TIM, Laboratórios Abbott, Sebrae/RJ, Fiocruz, Claro, entre outras. Aprendendo a cada projeto entregue, a cada metodologia utilizada e a cada acompanhamento com os clientes, resultando nos textos para este Blog.

SAIBA MAIS

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

whatsapp