Há alguns anos atrás, quando eu era gerente de projetos de uma produtora de e-learning do Rio de Janeiro, o dono da empresa me ligou pedindo para participar de uma reunião comercial e apresentar a empresa para uma das secretarias do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Segundo ele, era só chegar na reunião, apresentar o portfólio da empresa, entender a necessidade e pegar o briefing para proposta. Simples assim!
Chegando na reunião, nos apresentamos, trocamos cartões, liguei o notebook e comecei a apresentar o portfólio para o Secretário e seu grupo de assessores. Tudo seguindo o esperado, até que o Secretário me interrompeu no meio da apresentação e já disparou: “Espera! Espera! Para! Já conheço sua empresa e seu portfólio! Se não conhecesse, você não estaria aqui… Vou logo falar da minha necessidade, para não perder o meu tempo e o seu!”. Curto e grosso!
A situação era a seguinte: com o boom da exploração de petróleo na Região dos Lagos no Estado do Rio de Janeiro, muitos engenheiros de empresas estrangeiras vieram morar nas pequenas cidades da região, juntamente com suas famílias. Só que, tanto os engenheiros quanto as famílias não falavam português (pelo menos a grande maioria), o que gerava um grande problema no dia a dia dessas cidades, que não estavam preparadas para tamanha migração.
A necessidade imediata da Secretaria era justamente adquirir um curso on-line de inglês extremamente lúdico, para que todo o mercado de prestadores de serviços das pequenas cidades, que estava em ebulição, pudesse atender às necessidades básicas das famílias dos engenheiros que tinham acabado de se mudar.
Por exemplo, a mulher de um dos engenheiros gostaria de ligar para um salão de beleza, marcar um dia e horário para cortar o cabelo e, ao chegar, explicar minimamente em inglês como queria o corte. Ou então, nos próprios escritórios que ficavam os engenheiros, teriam momentos que eles marcariam reuniões para determinados dias e horários e precisava já deixar agendado com a copa, para que tivesse um garçom disponível sempre para servir café e água durante as reuniões. Garçom esse que precisava entender o mínimo: açúcar, adoçante, volta em meia hora etc.
O projeto consistia em montar alguns polos em pontos estratégicos nas cidades com computadores, acesso à internet e o curso gratuito para todos os prestadores de serviço das cidades. Era aberto à toda população.
O Secretário concluiu a reunião com: “Eu já conversei com os maiores cursos de inglês do mercado e nenhum tem uma metodologia que me atenda tão rapidamente. Vocês têm esse curso on-line exatamente para esse público alvo? Se não tem, obrigado pelo seu tempo! Quando conseguir me anteder, minha porta estará aberta”.
Como a empresa na qual eu trabalhava não tinha um curso on-line já pronto com essa metodologia, eu não tive muito o que falar… Apenas que iria voltar à empresa, passar a necessidade para o meu gestor e analisar em quanto tempo conseguiríamos customizar algo para a realidade da Secretaria.
Logo depois dessa reunião, surgiu uma reviravolta enorme no mercado, muitas questões políticas envolvidas, Estado do Rio de Janeiro perdeu grande parte dos royalties do petróleo e muitas empresas quebraram. Por conta disso, a customização para a Secretaria não era mais uma prioridade e o assunto foi engavetado.
Mas um ponto em especial foi aprendido nessa situação: independente do tema, o curso on-line que você desenvolve está de acordo com o seu público alvo? Você analisa antes se esse público precisa de um curso mais lúdico ou mais técnico? Estamos falando de um pessoal de chão de fábrica ou de alta diretoria? O público entende termos mais técnicos e em outras línguas ou precisa ser numa linguagem mais simples e direta? Enfim, para cada público existe uma forma de linguagem diferente, umas mais coloquiais, outras mais técnicas etc. Não adianta nada você desenvolver um curso on-line lindo, com um layout visualmente atraente ou com uma navegabilidade diferenciada, mas que não esteja falando a linguagem do público alvo. É preciso falar diretamente com o público!
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