Quando iniciei no mercado de educação à distância, essa função efetivamente ainda não existia. Até era feito um trabalho pedagógico, mas inicialmente era desenvolvido por jornalistas ou pedagogas e o conteúdo era organizado em roteiros adaptados do mercado de áudio/vídeo. Aos poucos esse trabalho foi evoluindo e surgiu a profissão de “Designer Instrucional” ou “DI”.
Para muitos, esse assunto parece ser batido e até meio óbvio, mas senti que é muito importante falar mais a fundo sobre esse tema, pois ainda vejo no mercado muitos projetos de e-learning desenvolvidos sem dar a devida importância para a forma em que o conteúdo é trabalhado na produção. Nem estou falando aqui em algo grotesco, como literalmente copiar e colar o conteúdo bruto em telas com um design legal, como era feito no passado em parte do mercado. Mas sinto que falta um cuidado maior com o conteúdo. Em muitos projetos, o DI até elabora uma nova estrutura para esse conteúdo, mas falta um aprofundamento maior. Talvez por prazos e orçamentos cada vez mais baixos exigidos pelo mercado, o fato é que é preciso um olhar mais cuidadoso com o conteúdo.
Por mais batido que esse tema seja, ainda presencio projetos em que o DI pega o material bruto, divide e distribui o conteúdo em telas, ajusta um texto aqui e outro ali, indica algumas imagens, escreve telas de abertura e conclusão, exercícios e/ou avaliação e pronto. Não vai muito além do que isso!
Ao meu ver, essa é uma das etapas mais importantes da produção de um projeto de e-learning (se não, a mais). Dito isso, você sabe exatamente qual o papel do designer instrucional no processo como um todo? Inicialmente, é o DI que irá “propor” uma nova solução pedagógica para aquele conteúdo como um todo.
O que é sempre falado ao cliente nas reuniões de briefing para o desenvolvimento do curso on-line é que “não iremos reescrever o conteúdo”, pois não somos especialistas naquele tema (imagina se formos reescrever todo um conteúdo sobre uma cirurgia do coração de ponte de safena?). Se tentarmos reescrever esse conteúdo, corre o risco de partes desse material perder o sentido ou escrevermos algum conceito de forma errada. Entretanto, o que será feito é uma reorganização nesse material prevendo o máximo de possibilidades para aquele tema.
Para começar, em sintonia com a área comercial para entender o que foi vendido, será proposto uma “saída” para a mídia que será entregue ao cliente. Será um curso on-line tradicional ou um jogo de tabuleiro? Um infográfico, uma animação, um blended com mais de uma solução junta… A partir do briefing, o DI irá propor uma melhor solução para a necessidade apresentada, considerando: valor orçado, cronograma de produção, público alvo, objetivos a serem alcançados, estrutura de servidor do cliente etc (por conta da nossa realidade: principalmente custo e prazo).
Na sequência, o DI precisa analisar o material base como um todo e definir um “mapa mental” para aquele conteúdo, como um diagrama desenhado para representar ideias, estrutura, conceitos e outras ferramentas relacionados com o objetivo final daquele treinamento.
Seguindo para uma estruturação do conteúdo: “Início, meio e fim”, divisão de “unidades, capítulos, aulas…” e partindo para elaborar o storyboard propriamente dito.
Se formos considerar um curso on-line, além das organizações propriamente ditas e sabidas das telas: tela de abertura, tela de conclusão, telas conceituais, cases, citações, provocações, conteúdos principais, conteúdo de apoio (bom e velho “saiba mais”), exercícios de fixação etc etc etc, vamos um pouco mais longe… Por que não propor algo diferente? Pesquise. Que tal pesquisar fora do mercado do e-learning? Veja as soluções criadas para outros mercados! Sites, APPs, publicações on-line… O que os criativos estão produzindo por aí?
Saindo um pouco do universo do storyboard e pensando na produção em si. O papel do DI não acaba só na elaboração do storyboard. Ele precisa trocar bastante e acompanhar com as outras etapas da produção (leia-se designer gráfico e programador web num primeiro momento). Tanto para que todos estejam alinhados com a sua linha de pensamento na hora de pensar no curso, quanto para ouvir os feedbacks das etapas do que é possível desenvolver ou não a partir das suas ideias. O DI não chega a ter um papel gerencial no todo, mas como a solução pensada foi sua, é muito importante que ela transite por todas as etapas da produção, para garantir que o resultado final seja exatamente o que foi pensado inicialmente.
Mensagem final é: saia da caixa e pesquise “fora do mercado” de e-learning.
Deixe um comentário