Nos projetos de e-learning que participo, volta e meia o gestor da empresa que me contratou surge com a ideia: “Que tal começarmos a desenvolver e vender cursos de prateleira? Vamos pensar em alguns temas que podem ser comercializados e começar a produzir os cursos!”.
A partir daí, seguimos na busca do tema! Começamos a fazer pesquisas, vemos o que as outras empresas do mercado estão anunciando, tentamos nos colocar no lugar do cliente final e nos questionamos: “se eu fosse fazer um curso on-line, qual tema me despertaria interesse?”. Pesquisamos em sites, revistas e jornais, nas colunas de empreendedorismo, inovação, tecnologias, novas mídias, criatividade etc.
No final de uma primeira triagem, encontramos um tema interessante e, para nosso desânimo, após fazer uma pesquisa de menos de cinco minutos na internet, percebemos que existem dezenas de empresas anunciando um curso on-line exatamente com o tema escolhido, sendo alguns até gratuitos… Bom, de volta para pesquisa!
Durante essa nova pesquisa, lembrei que, há uns anos, fui procurado por um grande hospital do Rio de Janeiro com o interesse de montar um projeto de cursos on-line para todos os seus colaboradores (balcão de atendimento, administrativo, técnicos de enfermagem, médicos etc).
Lembro que, após o briefing alinhado e detalhado, fomos à proposta! Calculamos os custos de produção, fizemos um levantamento de temas interessantes para área, especificamos o necessário para plataforma gerencial, desenvolvemos um protótipo de um curso com um tema da área de atuação do cliente (para deixar um ‘gostinho’ de resultado final), definimos o cronograma para produção dos cursos e implementação da plataforma, organizamos tudo numa apresentação e fomos à reunião para apresentar ao Hospital.
Resultado: Todos adoraram a proposta! Uns ajustes aqui e outros ali, acertar o cronograma a partir das urgências deles e enviamos uma segunda versão, que foi aprovada! Agora, bastava elaborar o contrato e aguardar a assinatura do diretor do hospital, para iniciar os trabalhos.
De repente, veio a ligação! O diretor do hospital pediu para que procurassem outras propostas, para terem uma base de comparação. Nessa procura, surgiu uma empresa concorrente que tinha uma proposta bem mais cara do que a nossa, porém já tinha todos os cursos prontos (a minha proposta, apesar de mais barata, nós teríamos ainda que desenvolver os cursos). Acabou para nós ali! Por mais que a nossa proposta estivesse ‘redondinha’, a outra empresa já tinha tudo pronto!
Tomei a liberdade de perguntar qual empresa tinha sido escolhida e, quando fui pesquisar sobre a tal empresa, verifiquei que era uma empresa de e-learning que atendia apenas o mercado de saúde. Era uma empresa de ‘nicho’. Eles tinham uma série de cursos on-line de prateleira apenas para esse mercado.
Mas não se trata apenas de acertar o nicho! Ao escrever esse post, me lembrei de um professor da minha época de faculdade de design que dizia: “Profissão de designer não é fazer uma cadeira ou um abajur bonitinho e arrojado. Um designer de verdade é aquele que resolve um problema de alguém através do design”. Em seguida, ele completava: “Se o seu meio social é de dentistas, por exemplo, vá um dia para o consultório de um dentista e veja o seu dia a dia de trabalho. Todos os dentistas, depois de anos de profissão, têm problema de coluna por conta da posição em que eles trabalham para tratar os dentes dos pacientes. O designer de produtos que conseguir criar alguma cadeira ou algum mecanismo que cuide da coluna do dentista vai ficar rico!“.
No curso de prateleira é a mesma coisa! Não adianta apenas acertar o nicho. Juntando a isso, você precisa resolver algum problema desse nicho através do seu curso on-line! Caso contrário, você só vai gastar tempo e dinheiro e será apenas mais um anunciando um curso com um tema genérico e batido.
Respondendo a pergunta tema desse post: Sim! Curso de prateleira vende, mas é preciso conhecer o mercado, entender (e resolver) quais as suas ‘dores’ e oferecer um tema que ninguém ainda explorou.
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