Recentemente, fui convidado pelo INLAGS – Instituto Latino Americano de Gestão em Saúde, para fazer uma apresentação aos seus professores/autores, com o objetivo de orientá-los sobre o melhor formato para entregarem o seu conteúdo bruto, que será encaminhado posteriormente para equipe de produção, para desenvolver cursos on-line, nos quais serão comercializados para o todo o mercado de saúde.
O curioso é que, em mais de 25 anos de profissão, essa foi a primeira vez que recebi um convite desse tipo. Em todos os projetos que participei anteriormente, após reunião de briefing e esclarecimento de dúvidas do projeto, o conteúdo bruto do cliente era enviado para produção da maneira que estava originalmente, seja apresentação PowerPoint, apostila em Word ou qualquer outro formato, o material original vinha sem qualquer trabalho de melhoria por parte dos seus autores originais. Do jeito que estava, ia para equipe iniciar os processos de produção.
Esse tipo de iniciativa foi bem interessante, pois quanto mais o “autor” organiza seu conteúdo, mais fluida e correta será a produção do curso mais a frente.
Bom, como eu não tinha nada preparado diretamente para esse tipo de apresentação, juntei os materiais das minhas apresentações anteriores e comecei a separar dicas a partir de situações reais que presenciei ao longo de centenas de projetos para cursos on-line, nas quais o texto original era um problema (ou solução).
O objetivo da apresentação não era ensinar o autor a escrever o seu conteúdo! Afinal de contas, ninguém conhece melhor o seu curso como seu próprio autor. O objetivo principal era fazer com que ele organize o seu conteúdo da melhor maneira possível, pensando a partir de uma nova mídia: a internet.
Em um primeiro momento, eu precisava separar o que era obrigação do autor e, posteriormente, do designer instrucional na etapa de elaboração do storyboard, pois muitas atribuições se esbarrariam aí.
Precisamos entender que teremos uma nova percepção sobre o aluno: ele não estará na frente do professor e eles não terão um contato direto (isso falando em cursos sem tutoria), portanto, se surgir alguma dúvida em relação ao seu conteúdo, ele não conseguirá esclarecer essa dúvida (pelo menos num primeiro momento). Isso parece ser óbvio num primeiro momento, mas nem todo mundo tem esse entendimento (ou essa preocupação). Dito isso, precisamos disponibilizar um conteúdo que esteja apresentado de maneira clara e que ele entenda de primeira. Não pode dar margem para dúvidas!
Um segundo ponto, tão importante quanto o anterior, é que esse aluno estará sozinho, em casa, na frente do computador (ou celular), em um momento em que ele poderia estar fazendo qualquer outra coisa, mas ele (por livre e espontânea vontade) resolveu disponibilizar esse tempo (muitas vezes de noite ou finais de semana) para se dedicar ao curso on-line (isso tudo falando mais para o lado do varejo). Por conta disso, o conteúdo precisa ser interessante para ele. Não pode ser chato! Ele precisa ter uma experiência agradável ao estudar o seu curso. Caso contrário, esse interesse vai se perdendo com o tempo e, rapidamente, ele vai abandonar o seu curso.
O ponto que acredito que seja mais importante para o conteúdo é: o que o seu curso vai agregar na vida desse aluno? O que ele vai fazer com o que aprendeu? É preciso que esse conteúdo seja RELEVANTE ao aluno!
Bom, antes de falar do conteúdo propriamente dito, precisamos pensar num primeiro passo: o Título. Muitas vezes um curso tem um título grande e confuso: “O Processo de Implantação do Sistema XYZ no Mercado do Brasil e do Mundo segundo a Teoria ZZZ”. O curso precisa ter um nome curto, simples, direto e que tenha algum apelo comercial. Existem casos de cursos geniais, mas que tiveram pouquíssimas vendas por conta de um título ruim. O título é a primeira informação que o aluno visualizará! Portanto, precisa ser algo que desperte a sua curiosidade.
Com o título definido, o passo seguinte é a Ementa. Tudo o que o futuro aluno precisa saber em menos de uma página, para que ele confirme o interesse e decida efetivamente a escolha do seu curso: objetivos, público alvo, justificativa, principais tópicos, pré-requisitos (ex: formado no curso XYZ, pós-graduado, inglês…) etc. “Qual o problema efetivo o aluno vai resolver, no mundo real, ao comprar o seu curso?”
Seguindo para o índice, que podemos dividir na seguinte hierarquia de conteúdo:
Unidade – Capítulo – aula. Uma divisão bem estruturada e organizada em aulas relativamente curtas já garante uma melhor organização do aluno na divisão do seu tempo para dedicação dos seus estudos. Para isso, é preciso dividir o conteúdo em pequenas aulas entre 2 a 4 horas, sendo que cada aula será embasada em um conteúdo bruto de 3 a 5 laudas.
Agora, o mais importante: o Texto. O material que será escrito precisa ser claro e objetivo. Um texto bem escrito torna qualquer elemento de apoio desnecessário. É preciso pensar diretamente no aluno que estará lendo do outro lado da tela e, como já falamos, considere que ele não estará presente no momento em que estiver estudando e surgirem dúvidas. O aluno precisa ler e entender de primeira, portanto não é para falar “bonito”, mas sim simples e com clareza. Precisa se concentrar em passar a mensagem que deseja, apenas isso.
Na sequência, elementos de apoio. Este serve para destacar e enfatizar alguma informação importante ao longo do texto. Pode ser uma foto, um gráfico, organograma, ilustração, tabela, fluxograma, infográfico etc. Dica: alguns conteúdos são muito específicos e particulares dentro do tema e, quando a equipe criativa começar a trabalhar com o material para produção do curso on-line, pode ter dificuldades para encontrar esses elementos. Por conta disso, todas as suas contribuições são bem vindas (quanto melhor a qualidade/resolução desse elemento, mais ágil será o trabalho da equipe mais a frente).
Cases e situações reais também são interessantes, pois tiram o conteúdo do ‘teórico’ e o remetem diretamente para o mundo real. Identifique e conte situações que aconteceram e que podem contribuir para algum conceito ou alguma questão importante que você queira passar (IMPORTANTE! Caso o case seja alguma situação ruim ou que constranja seus personagens, evite usar os nomes dos personagens reais).
Sempre que possível, provoque a reflexão do aluno. Nas situações apresentadas, questione posteriormente sua opinião sobre o desfecho do ocorrido (o que você achou da decisão do personagem na conclusão da situação? …ou, e se a ação x não tivesse acontecido? etc). Pequenas iniciativas como essa, já fazem um link entre o que ele está estudando e a sua situação real.
Caso utilize conteúdos de outros autores, é extremamente necessário que inclua a referência da origem do conteúdo (textos, citações, trechos de poemas, livros e/ou letras de música, fotografias autorais etc), caso contrário será considerado plágio (hoje existem várias ferramentas na internet para descobrir se determinado texto é ou não plágio).
Cuidado! Alguns tipos de informações são considerados sensíveis, portanto evite ao máximo emitir opiniões pessoais sobre determinados temas, pois podem causar reações ou feedbacks negativos sobre o seu curso, por exemplo: origem racial ou étnica; convicção religiosa; opinião política; opções sexuais; outros assuntos delicados, aborto por exemplo.
A maior vantagem de um curso on-line é justamente um conteúdo rico em informações complementares, como: referências bibliográficas; links referentes; perguntas freqüentes; exemplos (muitos exemplos!); notícias e artigos (esses com as devidas referências); cases; glossário; situações; dicas; saiba mais; definições; citações etc.
Para finalizar, sugira um exercício de fixação ao final de cada aula, separando em torno de cinco a sete questões objetivas (múltipla-escola, VeF ou relacione colunas) sobre o conteúdo que foi estudado naquele momento (Importante: evitar imagens, tabelas e textos muito extensos para questões e opções de respostas). Não esqueça de enviar o gabarito dos exercícios indicando quais as respostas corretas (gabaritos comentados também ajudam o aprendizado)!
Dicas finais:
– Focar apenas no aluno;
– utilizar uma redação simples, mas sem cair no simplismo;
– usar um tom simpático no texto;
– trazer informações que motivem os estudantes;
– demonstrar objetividade diante dos assuntos tratados;
– proibido o uso de gírias e abreviações: vc, pq, blz.
Para concluir, importante sinalizar que, nesse post, não estamos falando sobre formato final do curso on-line que será entregue ao aluno. Aqui é “um passo anterior”, que se refere ao seu conteúdo original. Ou seja, como o autor vai preparar o material para ser entregue à equipe de produção (design/pedagogia/programação) para, efetivamente, desenvolverem o curso on-line. Depois desse passo, será pensado efetivamente qual o formato final: curso on-line tradicional, gamificação, storytelling, podcast etc.
Deixe um comentário